OS POVOS INDÍGENAS
Calcula-se
que a população indígena do Paraná antes de 1500 ultrapassava 400 mil
habitantes. Eram eles os Xetás e os Guaranis, que pertenciam ao grupo
linguístico Tupi, e os Kaingang que pertenciam ao grupo Jê, também denominados
tapuias.
Os
Xetás habitavam a serra dos Dourados, entre os rios Paraná e Ivaí, no noroeste
do estado e, segundo pesquisadores, foram os únicos povos encontrados somente
no Estado do Paraná. Com a colonização cafeeira, a chegada do “homem branco” e
surtos de gripe e sarampo, a tribo foi dizimada em menos de uma década. Os que
sobreviveram foram levados para outros reservas. Hoje, temos conhecimento que
restam apenas cinco Xetás – quatro homens e uma mulher aldeados – outros cinco
desaldeados, fadados à extinção enquanto grupo étnico.
Os
kaingang habitavam as regiões de Palmas e Guarapuava e nas proximidades dos
rios Tibagi e Ivaí.
Os
guaranis espalhavam-se ao longo das margens do Rio Paraná e eram conhecidos
como carijós. Ocuparam também a região litorânea situada entre Cananeia (SP) e
a Lagoa dos Patos (RS).
Até
a década de 1970 aconteceu um processo
de despopulação entre os índios. Em 1975, existiam em torno de 2.500 indígenas
no estado. Em 1985, somavam 5.000. Hoje,
a população indígena paranaense é de cerca de 9.000 índios vivendo em diversas
reservas, sob a responsabilidade dos Conselhos Indígenas Regionais ligados à
FUNAI ou em aldeias como a de Mococa, em Ortigueira. A população indígena vem
crescendo mais do que o dobro dos não-índios. A reversão do quadro se deve a
três causas principais: expulsão de invasores das terras indígenas; tratamento
sanitário; produção de alimentos em áreas das reservas anteriormente ocupadas
por não-índios.
Além
das áreas demarcadas para os Kaingang, no momento estão sendo recuperadas
terras para os Guaranis. Com relação a estes, observa-se, nas duas últimas
décadas, um movimento de retorno ao litoral, onde se encontravam, no início da
colonização, com a denominação de “Carijós”.
Da
cultura indígena, tiramos muitas informações como os caminhos percorridos, a
extração de alimentos, as ervas medicinais, o artesanato,a organização familiar
e tribal. No entanto, permanecem em alguns livros didáticos, visões preconceituosas
que consideram o indígena como parte da natureza, incapaz de formar sociedades
civilizadas ou então como vítima indefesa diante do homem branco. Podemos
também citar a valorização de desvios que seriam herdados dos nativos como a
preguiça, a beberagem, o nomadismo, a selvageria.
OS PRIMEIROS
COLONIZADORES
A
maior parte do território paranaense pertencia aos espanhóis. Apenas o litoral
pertencia aos portugueses e na divisão do Brasil em capitanias hereditárias,
inicialmente o Paraná pertencia à Capitania de São Vicente, depois se tornou
sesmaria de Diogo de Unhate e mais tarde foi incorporada à Província de São
Paulo.
Aleixo Garcia foi um dos primeiros
europeus a percorrer o território do Paraná utilizando o caminho do Peabiru,
chegando até o Oceano Pacífico no início do século XVI.
O espanhol Álvares Nuñez Cabeza de
Vaca, realizou uma grande expedição militar partindo do litoral de Santa
Catarina, em 18 de outubro de 1541, com 250 arcabuzeiros e balisteiros, 26
cavalos, dois frades e alguns índios. Cabeza de Vaca atravessou o Paraná
utilizando parte do Caminho do Peabiru.
Em 11 de março de 1542 chegou em Assunção, onde se declarou
governador. Cabeza de Vaca foi sucedido
por Martinez Irala e, a partir daí, começou a enviar seus homens na direção
leste, os quais fundavam povoados.
Toda
esta região passou a ser chamada de Província de Guairá e localizava-se entre
os rios Paranapanema, Pananá, Piquiri e Tibagi. O significado da palavra
“Guairá” é, em guarani, “terra de gente jovem” e, em tupi, “terra
intransponível”. Foram criadas as encomiendas
que eram formadas em terras doadas às pessoas que nelas quisessem morar,
pacificar e catequizar os índios. Somente em 1608, o rei da Espanha cria
oficialmente a Província Del Guairá.
Em
1554, por determinação de Domingos Martinez Irala, governador do Paraguai, seu
comandado, Garcia Rodrigues de Vergara, fundou o primeiro povoado no Guairá,
que foi denominado Ontiveros na margem esquerda do Rio Paraná, que logo
seria completamente abandonado. Posteriormente Vergara fundou Cuidad Real Del Guairá e Ruy Dias
Melgarejo fundou, em 1576, Vila Rica do
Espírito Santo, nas proximidades do Rio Ivaí.
Os
índios das encomiendas foram
transformados em escravos: plantavam, caçavam, coletavam madeira, trabalhavam
nas construções e coletavam erva-mate. Os jesuítas, que eram contra a
escravização dos índios, fundaram as reduções ou missões com o objetivo de
proteger os nativos, catequizá-los e treiná-los para o trabalho. A população
das reduções era de 40 mil índios aproximadamente.
Nesse
mesmo período, os bandeirantes buscavam riquezas a partir da escravidão
indígenas. Os índios eram capturados e vendidos ou levados para trabalhar nas
fazendas dos bandeirantes. As reduções foram todas destruídas pelos
bandeirantes que preferiam aprisionar o índio ladino, já catequizado pelos
jesuítas. No ano de 1632, não existia mais nenhuma encomienda ou redução no território do oeste do Paraná. Essa região
ficou abandonada por mais de um século.
POVOAMENTO
DO LITORAL
Dentre as primeiras referências a
presença portuguesa no litoral paranaense, podemos citar a bandeira chefiada
por Jerônimo Leitão, Capitão-Mor de São Vicente, que dedicou-se ao apresamento
de índios Carijós. Manoel Soeiro, e outros bandeirantes, continuaram as
incursões após 1594, até o extermínio de toda a população indígena no litoral
sul.
Paranaguá,
o mais antigo núcleo povoador do litoral do Paraná, foi fundada pelo espanhol
Gabriel de Lara que participava das bandeiras e ocupou a ilha de Cotinga. Em
1656, Gabriel de Lara tornou-se capitão-mor da capitania de Paranaguá.
A
região prosperava com a descoberta do ouro de aluvião que atraiu um
considerável fluxo populacional vindo de Santos, São Vicente, Cananeia, São
Paulo e Rio de Janeiro.
Eleodoro
Ébano Pereira foi nomeado “Capitão das Canoas de Guerra das Costas dos Mares do
Sul”, tornando-se responsável pela administração das minas, pela vigilância do
litoral e pela cobrança do quinto.
Em 9 de janeiro de 1649, a
Vila Nossa Senhora do Rosário de Paranaguá tornou-se oficialmente a primeira
vila de nosso estado.
As
cidades de Antonina (1714) e Morretes (1721) surgiram posteriormente, também
com a presença de faiscadores na região.
Em
meados do século XVII, mineradores que avançavam, uns pelo rio Nhundiaquara, e
outros pelo rio Ribeira, vindos de Cananeia, Iguape, Santos, Paranaguá e do
interior de São Paulo, estabeleceram de forma precária e provisória, núcleos de
garimpeiros que conviviam com indos tingui, da nação tupi-guarani.
No
ano de 1668, Gabriel de Lara mandou erguer o pelourinho no povoado, habitado
pelos bandeirantes Mateus Martins Leme, Baltazar Carrasco dos Reis e outros
quinze chefes de família. Em 29 de marco de 1693, o povoado foi oficializado
como Vila Nossa Senhora da Luz dos Pinhais de Curitiba. Somente em 1842
tornou-se cidade.
CAMINHOS
Trilhas
e picadas abertas na mata pelos indígenas foram utilizadas por tropeiros,
mineradores, jesuítas e outros viajantes e aventureiros. Esse caminhos
facilitaram a movimentação das mercadorias e ocupação do Paraná.
Os principais caminhos utilizados foram:
PEABIRU à Liga o Peru a São
Vicente. Os portugueses chegaram ao Planalto de Piratininga, ficaram surpresos
ao saber que existia um caminho no meio da selva – uma estrada de terra batida
com mais de 200 léguas, com a largura de 8 palmos, por onde os índios já passavam
muito antes do Brasil ser descoberto. A trilha ligava o Atlântico ao Pacífico.
Assustados com a descoberta, os jesuítas que vieram com os primeiros
colonizadores no tiveram nenhuma dúvida em afirmar que se tratava de obra do
sobrenatural. Para os índios era o caminho do Pai Sumé, daí a relação com São
Tomé, cujo sincretismo, no dizer do historiador Hernani Donato: “enovelou-se em
uma das mais belas e intrincadas complicações dos capítulos iniciais da
história brasileira”. A estrada cortava o solo do Paraguai e entrava no Brasil
na altura do rio Piquiri, passava os rios Ivaí e Tibagi, e bifurcava-se na
altura do Vale do Ribeira. O tronco principal seguia até São Vicente, enquanto
outras ramificações se dirigiam a Cananéia e Iguape. Era uma estrada complexa
com 1,4m de largura aproximadamente e cerca de 3.000Km
GRACIOSA
à
Importante via de comunicação entre Curitiba e Antonina, passando por Morretes
e Porto de Cima.
ITUPAVA
à
Também conhecido como Estrada de Cubatão, foi uma das primeiras vias de
comunicação entre o litoral e o Planalto de Curitiba.
ARRAIAL
à
Liga Morretes a Curitiba passando por São Jose dos Pinhais.
VIAMÃO
à
Era o caminho das Tropas que ligava Viamão, no Rio Grande do Sul até Sorocaba,
também conhecido como Estrada da Mata.
O TROPEIRISMO E A
OCUPAÇÃO DO INTERIOR
A ocupação do Paraná tradicional, ou
seja, a região dos Campos Gerais, se deu pela concessão de sesmarias e pela
posse inicial. Homens ricos e poderosos de São Paulo , Santos e Paranaguá,
preocupados com o abastecimento de São Paulo e das regiões mineradoras,
mandavam capatazes e escravos para tomar posse de terras ao longo do caminho
que ligava Curitiba a Sorocaba. Com o passar do tempo, alegando a necessidade
de conduzir o gado, requeriam a sesmaria.
Um levantamento realizado em 1772
apurou que, em toda a extensão dos Campos Gerais, que correspondia ao eixo
percorrido pelas tropas, existiam 50 grandes fazendas e 125 sítios. Os dados
revelam que as grandes fazendas dividiam espaços com pequenas e médias
propriedades, prevalecendo a mão-de-obra livre.
Os tropeiros que comercializavam o
gado conduzindo-o do Rio Grande do Sul à feira na cidade de Sorocaba, faziam um
percurso longo e cansativo. O caminho percorrido era chamado de Estrada da Mata
até 1731 quando passou a ser conhecido como Caminho do Viamão. Esse caminho
começava em Viamão, no Rio Grande do Sul, passava por Curitiba e pelos Campos
Gerais. Os pontos de parada das tropas transformaram-se em pequenos povoados,
vilas que hoje constituem cidades como: Ponta Grossa, Lapa, Palmeira, Castro.
AS
TRANSFORMAÇÕES DA ECONOMIA PARANAENSE
No início do século XIX a erva-mate
passou a ser comercializada com o Uruguai e a Argentina, exigindo a organização
de engenhos que aumentassem a produção, utilizando máquinas a vapor. Em 1885,
foi concluída a construção da ferrovia Curitiba-Paranaguá tornando mais rápido
o transporte do mate. Até 1920,
a erva-mate representou o principal produto de
exportação da província.
Paralelamente
à exploração da erva-mate, surgem as serrarias e em torno delas eram
construídas casas, armazéns e igrejas, formando pequenos povoados. Em 1900, com
a construção de estradas, teve início a exportação de madeira para o Rio de
Janeiro, São Paulo e também para a Argentina e o Uruguai. Com a primeira Guerra
Mundial, a exportação ganhou maior impulso.
A
partir de 1894, iniciou-se o plantio do café na região conhecida atualmente
como Norte Pioneiro ou Norte Velho. Fazendeiros paulistas e mineiros iniciaram
a formação de fazendas de café nos moldes tradicionais, atraídos pela notícia
da existência de porções de terra roxa e requeriam as terras ao governo
Imperial, mediante aquisição a baixos preços. Nesse período o sistema de
sesmaria estava extinto. A Lei de Terras, de 1850, proibiu a ocupação de terras
devolutas, permitindo apenas a compra como forma de aquisição de título. As terras devolutas foram incorporadas ao
patrimônio nacional e o governo poder conceder terras apenas para a fundação de
povoados, abertura de estradas ou construção de estabelecimento público.
Essa
ocupação foi espontânea dos fazendeiros, que, como empresa privada, individual,
traziam suas famílias e empregados para trabalhar no cultivo do café e, em
menor escala, para a criação de gado. A movimentação da frente pioneira
resultou na formação de núcleos populacionais como Tomazina, Santo Antonio da
Platina, Venceslau Braz, Jacarezinho, Cambará e Cornélio Procópio. Com
a atuação dos paulistas, construiu-se a estrada de ferro de Sorocaba até
Ourinhos, município que faz fronteira com o Paraná.
A
segunda região, conhecida como Norte Novo e colonizada a partir do plantio do
café, abrangia a área que vai da margem
esquerda do Rio Tibagi até as barrancas do Rio Paraná. O
governo paranaense também passou a vender lotes de terras de sua propriedade
para pessoas interessadas e para companhias colonizadoras que poderiam ser
chamadas de loteadoras. Empresas como a Paraná Plantation
Limited, companhia inglesa sediada em Londres, organizaram o fluxo migratório
numa região correspondente a 515 mil alqueires. O Lord Lovat,
representante da companhia, divulgou a venda das terras através de propagandas
em que se falava da “terra roxa sem saúva”, apropriada para o cultivo do café. A
área foi demarcada e dividida em zonas, depois em glebas e em lotes de cerca de
15 alqueires. Estradas foram abertas ligando as áreas rurais aos centros
urbanos e facilitando as trocas comerciais e o escoamento da produção. A compra
dos lotes era facilitada, com parcelamento de até 48 meses com 8% de juros ao
ano. Os colonos que adquiriam os lotes assumiam o compromisso de preservar 10%
da área de floresta. Plantavam o café e uma roça de subsistência.
A
partir de 1951, a empresa colonizadora lançou-se em novos empreendimentos e
fundou uma
companhia subsidiária, a Companhia de Terras Norte do Paraná. Promoveu-se
a
vinda de paulistas, mineiros, nordestinos que povoaram densamente a região.
Posteriormente vieram os colonos estrangeiros como japoneses, alemães,
portugueses aumentou a partir de 1930. Esse empreendimento imobiliário originou
cidades como Londrina, Apucarana e Maringá. Outras companhias colonizadoras
também atuaram em Assaí, Uraí e Sertanópolis.
O
cultivo de café se estendeu até o Norte Novíssimo mas nessa região o solo não
era tão indicado para o produto. Como o Paraná havia se tornado um dos maiores
produtores de café do Brasil, e as exportações cresciam, as plantações se estenderam de Londrina a
Paranavaí entre 1920 e 1960.
As
fortes geadas pelas quais o estado do Paraná passou, fez com que aos poucos
fossem sendo substituídas as plantações de café por outros produtos de menor
risco.
A
partir da década de 1960, intensifica-se o cultivo de soja no Brasil. Esse
produto adapta-se a qualquer tipo de solo e resiste bem a variações climáticas.
A maior parte da produção é exportada.