África

segunda-feira, 24 de outubro de 2011
A construção de uma história dos afrodescendentes e dos povos indígenas tornou-se fundamental para o entendimento da sociedade brasileira, envolvendo desde questões relativas à inserção no mundo capitalista até questões associadas aos valores compartilhados, às chamadas identidades e a participação cidadã dos vários grupos que formam a nossa sociedade. Então, seguem algumas informações importantes sobre a História da África.

Embora os povos que habitassem a África Subsaariana (regiões ao sul do Saara) possuíssem enorme diversidade de línguas, costumes e formas de organização, é possível destacar algumas características comuns aos habitantes da região que apontamos a seguir.

Formas de organização – As sociedades africanas antigas se organizavam a partir das relações de parentesco e de fidelidade ao chefe de família. Dependentes e agregados do chefe de família formavam o núcleo social básico. Isso valia tanto para os grupos caçadores e coletores quanto para as sociedades mais desenvolvidas tecnologicamente.

Nas aldeias, o chefe de família podia estar subordinado a outra liderança, o chefe da aldeia. Em algumas regiões da África existiram confederações de aldeias, formando sociedades mais complexas. Existiram também reinos (Gana, Benin, Conga, Mali), com o poder concentrado nas mãos de um chefe e com uma capital que comandava várias aldeias. Poucos reinos africanos, porém, conseguiram atingir grandes proporções e tiveram longa duração.


Comércio – O comércio era uma atividade cotidiana pela qual eram obtidos produtos que não eram produzidos localmente. Em algumas regiões, por exemplo, trocavam-se grãos por marfim; em outras, tecidos por ouro. O comércio foi uma atividade muito importante para a difusão de ideias e comportamentos. Foi por meio das caravanas no deserto do Saara, por exemplo, que o islamismo se expandiu pelo norte do continente. Essas caravanas existem até hoje e continuam fascinando pela coragem em enfrentar lugares tão inóspitos.

Família – Os laços familiares eram muito fortes entre os africanos. A solidariedade entre os membros das famílias era acionada cotidianamente e estava ligada à tradição de veneração de um antepassado comum. Nas famílias, a regra geral era a poligamia. Os homens podiam ter muitas esposas, desde que conseguissem sustentá-las. Quanto maior o número de mulheres, maior a imagem de poder de um homem. Nem por isso as mulheres ocupavam posições menos importantes. Ao contrário do que ocorre em algumas sociedades islamizadas, muitas mulheres africanas exerciam profunda influência nas atividades econômicas da família. Também podiam ter o direito de divórcio e de interferir na escolha das esposas do seu marido. Dependendo da sociedade, as mulheres da África tinham muito mais independência do que as europeias, que, por conta do cristianismo, estabeleciam relações monogâmicas.

Religiosidade – Ao sul do Saara, predominava o politeísmo. Nessas sociedades, a vida cotidiana acontecia e era explicada pela crença na existência de deuses e de espíritos de antepasados. A religião também ajudava a sustentar ideologicamente as lideranças, pois elas eram vistas como intermediárias entre o mundo dos vivos e o do sobrenatural. O sistema de crenças era responsável pelas normas de convivência, pelo exercício do poder e pela garantia da harmonia da comunidade. Parte dessa religiosidade existe até os dias atuais.

Escravidão - Havia escravização dentro do continente africano desde a Antiguidade. Chamada de escravidão doméstica, ela existia inicialmente em pequena escala e estava relacionada principalmente às derrotas nas guerras tribais. Esses conflitos ocorriam devido às diferenças étnicas, políticas e culturais entre os grupos africanos.

Então, africanos escravizavam africanos? Geograficamente falando, sim. Mas em termos culturais, não se pode afirmar isso. Até o século XIX, inexistia entre os povos da África a noção de pertencimento a um continente. Para um habitante de uma aldeia africana, seu mundo era o local onde vivia com seus iguais. Assim, não era incomum que uma aldeia escravizasse membros da aldeia vizinha devido a guerras e a diferenças culturais e políticas. A inexistência de uma identidade continental não era exclusividade dos povos da África.


Além da escravidão doméstica, existiam reinos da África que praticavam um lucrativo comércio de gente com regiões mais distantes. No norte do continente, por exemplo, a expansão do islamismo a partir do século VII levou a região a consumir milhões de escravos vindo do sul. Os escravos eram uma mercadoria valiosa nas rotas do deserto do Saara. Na costa oriental da África, banhada pelo oceano Índico, esse tipo de comércio também era intenso. Indianos e muçulmanos vinham ao litoral africano em busca de produtos como ouro, marfim, aromas e, claro, escravos. Segundo historiadores, entre os anos de 650 e 1600 cerca de oito milhões de escravos foram levados para o mundo muçulmano, que inclui regiões do norte da África, da península Arábica e aquelas banhadas pelo oceano Índico.

Assim, quando os portugueses entraram em contato com os povos africanos, o tráfico de escravos já era uma prática habitual no continente. Essa constatação, no entanto, não é uma justificativa para que os lusitanos também praticassem a escravização. Além disso, os portugueses fizeram mais do que simplesmente participar de um antigo comércio. Com sua chegada, o tráfico de escravos alcançou um volume excepcionalmente grande, transformando-se em uma atividade altamente lucrativa e intercontinental. Eles foram os pioneiros na escravidão moderna.

Interessados em fazer comércio com os portugueses, alguns reinos africanos mais poderosos aumentaram enormemente a captura de cativos a partir do século XVI. Eles trocavam pessoas por tecidos e produtos manufaturados de todo tipo. Algumas sociedades africanas lucraram bastante com esse tipo de comércio. O enriquecimento, porém, foi passageiro e ilusório. Quando os europeus passaram a colonizar de fato a África no século XIX, esses reinos foram os primeiros a ser dominados.

Calcula-se que, entre os séculos XVI e XIX, 12,5 milhões de escravos foram mandados para o continente americano. A partir desses números, pode-se notar que esse comércio liderado pelos europeus foi bem mais intenso e dramático do que as antigas relações de negócios estabelecidas com regiões muçulmanas. O Brasil foi o país que mais escravos negros recebeu – foram de 4 a 5 milhões de cativos ao longo de mais de três séculos.
 
 
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